quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

OGUM - ARCANO VII - A CARRUAGEM

O Carro no tarot mitológico

INTRODUÇÃO


O tarot, representando aspectos e faces da jornada espiritual e humana, relaciona-se diretamente com forças e necessidades que foram contempladas pelo culto aos orixás e que, nós, como caminhantes do polimatismo, podemos absorver de forma mais ampla, a fim de compreender melhor as partes do todo. Seguindo esse raciocínio, podemos entender que o arquétipo do orixá Ogum e do arcano VII do tarot, o Carro ou Carruagem, estão relacionados e cruzados em diversas formas, dentro das simbologias apresentadas em ambos. Explanaremos a seguir como se relacionam a lâmina e Orixá Guerreiro, a fim de entender como os aspectos dessa fase da jornada estão refletindo suas semelhanças e possuem a mesma fonte divina.
Primeiramente, faz-se necessário entender os elementos que permeiam a carta em si, e de que forma elas se relacionam com a força do arquétipo de guerreiro, denotando batalha, vitória, triunfo, movimento, ação, determinação, domínio, etc.





O Triunfo de Marco Aurelio


O TRIUNFO
Palavras-chave: vitória, triunfo, marte, guerra, roma

O triunfo, (em latim triumphus) é uma cerimonia e tradição civil e religiosa que tem origem na Roma antiga. Nesse rito, era dado o direito a um líder militar vitorioso em batalha que desfilasse em uma carruagem por uma procissão, a fim de apresentar sacrifício aos deuses e mostrar-se ganhador perante a população. Para ser um vir triumphalis (homem do triunfo), era preciso enviar uma solicitação e um relatório ao senado. O desfile triunfal colocava o vir triumphalis quase em pé de igualdade a um semideus, e era concedido apenas por mérito militar excepcional. A rota do triunfo romano tinha origem no Campo de Marte (planeta regente de Ogum e deus romano relacionado à guerra e à agricultura), uma zona pública bastante populosa do império. Apesar do caráter de homenagem e exibição do general bem sucedido, ele costumava se portar com humildade e prostrar-se perante às divindades, reconhecendo sua vitória em nome do senado, do povo e dos deuses de Roma, levando sacrifícios animais à estes. O triunfo romano é uma vívida materialização da lâmina analisada, como podemos observar nas imagens abaixo.


O Triunfo de Aemilius Paulus (Carle Vernet)








ARQUÉTIPO DE OGUM NA LÂMINA
Palavras-chave: ferro, tecnologia, armas, militarismo

O arquétipo do orixá Ogum é, necessariamente, de um guerreiro triunfante. O deus de origem yorubá é o senhor dos caminhos, das armas, das demandas, da guerra e agricultura. O militarismo, a espada, as batalhas e as vitórias estão todas relacionadas a ele. O desenvolvimento tecnológico também é creditado a esse deus, pois ele regeu a saída da humanidade da pré-história para a Idade do Ferro, momento no qual o homem obteve domínio sobre técnicas de fundição do ferro e sua utilização para ferramentas e armas, marcando assim o início de uma nova era para a humanidade. Atualmente, dentro da renovação do culto aos orixás e novas tradições, temos Ogum relacionado à guerra interna dos caminhantes espirituais que precisam vencer a si mesmos. Dessa forma encontramos seu sincretismo com São Jorge, soldado romano comumente visto em suas imagens montado em um cavalo e triunfante sobre um dragão. O cavalo de São Jorge significa os impulsos inferiores do homem que precisam ser dominados a fim de acessar a grande vitória sobre si próprio. O cavalo de Ogum, portanto, está presente na Carta e trataremos mais detalhadamente a respeito do animal em tópico próprio.


Batalha de Kurukshetra


A CARRUAGEM
Palavras-chave: domínio, movimento, ação, deslocamento, determinação

A carruagem, também conhecida como carro, representa movimento e ação. Montada em cima de rodas, nos da a idéia de deslocamento de um ponto a outro. Vista em cenários de batalhas, está presente na Guerra de Kurukshetra. Nessa batalha, Krishna e Arjuna se encontram em uma quádriga - considerada a carruagem dos deuses e heróis - e vão em direção à vitória. Na quádriga, encontramos hasteada a bandeira de Hanuman, fazendo alusão à invencibilidade. A carruagem no tarot, dominada por seu dirigente, representado com vestimentas nobres, com adornos, coroa e cetro, nos remonta à determinação e domínio. Assim como São Jorge domina seu cavalo, aquele que tomar as rédeas da própria carruagem e governar seus cavalos irá se dirigir impreterivelmente a ganhar. É a execução tomada após uma decisão, com pulso firme e júbilo, ao mesmo tempo em que é um desfile de um vencedor que já obteve sucesso. Esse é o simbolismo do invencível, do guerreiro corajoso e destemido.


O CAVALO

A medicina do cavalo é muito ampla. Tanto no arcano como no arquétipo de Ogum, ele representa a natureza inferior do homem, seus sentidos, suas forças inconscientes e o fim da desgovernança de si próprio quando enfim dominado. Ainda, é um animal que, junto com o resto da simbologia, nos remete à movimento, locomoção, caminhos, desenvolvimento e ação. É onde os guerreiros montam para irem à batalha. Não obstante, exala beleza e imponência, é um animal forte e veloz, que traz abertura de passagens e transição. Quando o homem domou o cavalo, a velocidade das viagens, antes lentas e pesarosas, tornou-se mais rápida, dinâmica e menos trabalhosa, pois agora o cavalo também carregava cargas. Isso proporcionou um avanço imenso no desenvolvimento da humanidade. Na antiguidade, possuir esses equinos era símbolo maior do poder bélico de um exército. Aquele que possuísse uma carro de guerra guiado por eles obtinha uma enorme vantagem sob seus rivais.

O Carro no tarot de Marselha

CONCLUSÃO

 O arquétipo do tarot e a força do Orixá se convergem em vários pontos. Ambos são figuras masculinas nobres, dominadores de cavalos, direcionadores de caminhos vitoriosos e trazem a figura do invencível, do guerreiro obstinado, da determinação em movimento, do triunfante. Ação e velocidade. Nem a carruagem e nem Ogum perdem tempo naquilo que não interessa na batalha.













O Carro em tarôs clássicos: Jacques Vieville (1650)  Jean Noblet (1650),  Nicolas Convert (1760) e  François Tourcaty (1800)

Beatriz Mazzini



REFERENCIAS