quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

OGUM - ARCANO VII - A CARRUAGEM

O Carro no tarot mitológico

INTRODUÇÃO


O tarot, representando aspectos e faces da jornada espiritual e humana, relaciona-se diretamente com forças e necessidades que foram contempladas pelo culto aos orixás e que, nós, como caminhantes do polimatismo, podemos absorver de forma mais ampla, a fim de compreender melhor as partes do todo. Seguindo esse raciocínio, podemos entender que o arquétipo do orixá Ogum e do arcano VII do tarot, o Carro ou Carruagem, estão relacionados e cruzados em diversas formas, dentro das simbologias apresentadas em ambos. Explanaremos a seguir como se relacionam a lâmina e Orixá Guerreiro, a fim de entender como os aspectos dessa fase da jornada estão refletindo suas semelhanças e possuem a mesma fonte divina.
Primeiramente, faz-se necessário entender os elementos que permeiam a carta em si, e de que forma elas se relacionam com a força do arquétipo de guerreiro, denotando batalha, vitória, triunfo, movimento, ação, determinação, domínio, etc.





O Triunfo de Marco Aurelio


O TRIUNFO
Palavras-chave: vitória, triunfo, marte, guerra, roma

O triunfo, (em latim triumphus) é uma cerimonia e tradição civil e religiosa que tem origem na Roma antiga. Nesse rito, era dado o direito a um líder militar vitorioso em batalha que desfilasse em uma carruagem por uma procissão, a fim de apresentar sacrifício aos deuses e mostrar-se ganhador perante a população. Para ser um vir triumphalis (homem do triunfo), era preciso enviar uma solicitação e um relatório ao senado. O desfile triunfal colocava o vir triumphalis quase em pé de igualdade a um semideus, e era concedido apenas por mérito militar excepcional. A rota do triunfo romano tinha origem no Campo de Marte (planeta regente de Ogum e deus romano relacionado à guerra e à agricultura), uma zona pública bastante populosa do império. Apesar do caráter de homenagem e exibição do general bem sucedido, ele costumava se portar com humildade e prostrar-se perante às divindades, reconhecendo sua vitória em nome do senado, do povo e dos deuses de Roma, levando sacrifícios animais à estes. O triunfo romano é uma vívida materialização da lâmina analisada, como podemos observar nas imagens abaixo.


O Triunfo de Aemilius Paulus (Carle Vernet)








ARQUÉTIPO DE OGUM NA LÂMINA
Palavras-chave: ferro, tecnologia, armas, militarismo

O arquétipo do orixá Ogum é, necessariamente, de um guerreiro triunfante. O deus de origem yorubá é o senhor dos caminhos, das armas, das demandas, da guerra e agricultura. O militarismo, a espada, as batalhas e as vitórias estão todas relacionadas a ele. O desenvolvimento tecnológico também é creditado a esse deus, pois ele regeu a saída da humanidade da pré-história para a Idade do Ferro, momento no qual o homem obteve domínio sobre técnicas de fundição do ferro e sua utilização para ferramentas e armas, marcando assim o início de uma nova era para a humanidade. Atualmente, dentro da renovação do culto aos orixás e novas tradições, temos Ogum relacionado à guerra interna dos caminhantes espirituais que precisam vencer a si mesmos. Dessa forma encontramos seu sincretismo com São Jorge, soldado romano comumente visto em suas imagens montado em um cavalo e triunfante sobre um dragão. O cavalo de São Jorge significa os impulsos inferiores do homem que precisam ser dominados a fim de acessar a grande vitória sobre si próprio. O cavalo de Ogum, portanto, está presente na Carta e trataremos mais detalhadamente a respeito do animal em tópico próprio.


Batalha de Kurukshetra


A CARRUAGEM
Palavras-chave: domínio, movimento, ação, deslocamento, determinação

A carruagem, também conhecida como carro, representa movimento e ação. Montada em cima de rodas, nos da a idéia de deslocamento de um ponto a outro. Vista em cenários de batalhas, está presente na Guerra de Kurukshetra. Nessa batalha, Krishna e Arjuna se encontram em uma quádriga - considerada a carruagem dos deuses e heróis - e vão em direção à vitória. Na quádriga, encontramos hasteada a bandeira de Hanuman, fazendo alusão à invencibilidade. A carruagem no tarot, dominada por seu dirigente, representado com vestimentas nobres, com adornos, coroa e cetro, nos remonta à determinação e domínio. Assim como São Jorge domina seu cavalo, aquele que tomar as rédeas da própria carruagem e governar seus cavalos irá se dirigir impreterivelmente a ganhar. É a execução tomada após uma decisão, com pulso firme e júbilo, ao mesmo tempo em que é um desfile de um vencedor que já obteve sucesso. Esse é o simbolismo do invencível, do guerreiro corajoso e destemido.


O CAVALO

A medicina do cavalo é muito ampla. Tanto no arcano como no arquétipo de Ogum, ele representa a natureza inferior do homem, seus sentidos, suas forças inconscientes e o fim da desgovernança de si próprio quando enfim dominado. Ainda, é um animal que, junto com o resto da simbologia, nos remete à movimento, locomoção, caminhos, desenvolvimento e ação. É onde os guerreiros montam para irem à batalha. Não obstante, exala beleza e imponência, é um animal forte e veloz, que traz abertura de passagens e transição. Quando o homem domou o cavalo, a velocidade das viagens, antes lentas e pesarosas, tornou-se mais rápida, dinâmica e menos trabalhosa, pois agora o cavalo também carregava cargas. Isso proporcionou um avanço imenso no desenvolvimento da humanidade. Na antiguidade, possuir esses equinos era símbolo maior do poder bélico de um exército. Aquele que possuísse uma carro de guerra guiado por eles obtinha uma enorme vantagem sob seus rivais.

O Carro no tarot de Marselha

CONCLUSÃO

 O arquétipo do tarot e a força do Orixá se convergem em vários pontos. Ambos são figuras masculinas nobres, dominadores de cavalos, direcionadores de caminhos vitoriosos e trazem a figura do invencível, do guerreiro obstinado, da determinação em movimento, do triunfante. Ação e velocidade. Nem a carruagem e nem Ogum perdem tempo naquilo que não interessa na batalha.













O Carro em tarôs clássicos: Jacques Vieville (1650)  Jean Noblet (1650),  Nicolas Convert (1760) e  François Tourcaty (1800)

Beatriz Mazzini



REFERENCIAS

domingo, 14 de outubro de 2018

Reflexões de Sabedoria 1

 “Fixe a atenção em si mesmo, seja consciente em cada instante do que pensa, sente, deseja e faz.”

Perdemos muito tempo observando os outros, suas ações e resultados. Perdendo assim o foco no que realmente importa, que somos nós próprios, ao nos afastarmos de nosso Ser, buscando observar outros e nos piores casos de forma obcecada ser o outro ou mesmo ter o que o outro conquistou, perdemos a oportunidade de alcançarmos através de nosso próprio merecimento e força, pois encontramo-nos a reagir a ação do próximo, deixamos de ser observadores e arquitetos que nossa vida e mundo, e ficamos presos por este carcereiro, já que você se permitiu fixar a sua atenção ao outro e não à si próprio. Liberte-se, escolha VOCÊ e deixe de ser seu próprio inimigo, o poder que seu inimigo possui é você que determina e concede devido ao apego a velhos hábitos e pensamentos destrutivos, quando manifestamos estes pensamentos ficamos também presos na destruição que desejamos.
Ao sermos conscientes de nos próprios, fixamos naturalmente a atenção em nós mesmos, assim podemos voltar para o campo da ação e não da reação. Neste Dharmaksetre que é a batalha e campo de peregrinação de vida pelo caminho do Dharma, das boas ações e iluminação, para que possamos ter alguma chance de iluminação devemos ter consciência desta batalha que se manifesta no pensamento, nas emoções, nos desejos e ações. No talmud diz:

“Preste atenção em teus pensamentos,
pois eles se tornarão palavras.
Preste atenção em tuas palavras,
pois elas se tornarão em atos.
Preste atenção em teus atos,
  pois eles se tornarão em hábitos.
Preste atenção em seus hábitos,
pois eles se tornarão teu caráter.
Preste atenção em teu caráter,
pois ele é teu destino.”

Mediante a forma que cada um de nós pensamos geramos as emoções e substancias bioquímicas em
sintonia, gerando paz, harmonia, raiva, ódio... O ser humano responde emocionalmente a estímulos bioquímicos assim se alimentando das próprias emoções.
Como existem pessoas que se alimentam de amor, harmonia, outros buscam o ódio, raiva, inveja. Cada um recebe o que deseja, assim será no final desta peregrinação.
A busca dhârmica de bons pensamentos e ações e parte essência da jornada espiritual do verdadeiro caminhante, aprender a lidar com a emoções conflitantes entre o que sentimos e o que pensamos e a mais importante batalha que Budha se refere, pois os pensamentos e emoções nutrem os desejos.
Budha diz que este e um mundo essencialmente de desejos, assim que realizamos um, criamos outro, num círculo aparentemente interminável, até que você assim limite os bons pensamentos, ações assim manifestando desejos mais plenos de evolução para si e os outros, um bom satori que uso é:

“Eu desejo receber em dobro o que lhe desejo”

Sejas o caminho de iluminação que desejas e contribua com o próximo sobre o mesmo prisma.
Em busca desta consciência que transcende o que acreditados, afinal, nem tudo o que acreditamos é verdade, podemos fazer o “certo”, a ação dharmica, termos a ação mais plena e equilibrada entre nosso próprio extremismo, isso é realmente evolução, estarmos consciente de nossos pensamentos, sentimentos e desejos, reflete nossa ação e aprendendo o que e como somos realmente, a mais pura verdade sobre nós carece de observação e aceitação.     
Agir dharmicamente se refere simplesmente a agir em pró da evolução espiritual de você enquanto alma espiritual inicialmente, tudo o que lhe ajuda a se aproximar mais da verdade em relação a você, Deus e ao Todo, é uma boa jornada dhârmica. Tudo que lhe afasta de você ter consciência si próprio, Deus e do Todo, se manifesta karmicamente, pois lhe afasta da verdade.
A busca de auto-definição não é um bom caminho, mas aqueles que buscam uma definição de seu próprio personagem nesta encarnação deve observar seus pensamentos, sentimentos, desejos e ações, assim a verdade se revelará. Se não gostar do que estas observando, simplesmente mude tomando um novo caminho em sua vida.

“Fixe a atenção em si mesmo, seja consciente em cada instante do que pensa, sente, deseja e faz.”

Este é um dos passos em uma jornada em busca de realização nos 3 planos (Material, Emocional e Espiritual) para que você alcance a sua verdade junto a uma consciência transcendental.



Minhas mais humildes reverências ao Mestre Georgiǐ Ivanovič Gǐurdžiev (Gurdjieff)
Atenciosamente, deste simples servo do caminho.
Mahasurya Swami

terça-feira, 11 de setembro de 2018

GUIAS DE ARUANDA – CONSIDERAÇÕES E CURIOSIDADES



                Nada na espiritualidade é aleatório e não seria diferente quando se trata de guias. Os guias de Aruanda, especificamente, possuem por de trás de cada detalhe um fundamento e é isso que iremos explanar a seguir. Antes, porém, entenderemos resumidamente o que se entende por Aruanda.  No plano astral, cada linha ou segmento espiritual ou religioso possui um local correspondente paralelo. Exemplificativamente, temos muito conhecido no Brasil o Nosso Lar, paralelo do espiritismo kardecista no plano astral. Aruanda é o correspondente da umbanda. Esse nome, originalmente, era Luanda, capital da Angola, local para o qual muitos escravos pretendiam voltar ainda em vida. Essa cidade foi o maior porto de comércio escravagista da África portuguesa. Com as mutações da linguagem e o renascimento de cultos de matriz africana, Luanda tornou-se Aruanda e representa o local de morada e acolhimento dos espíritos amparados pelas Leis da Umbanda, por ter sido símbolo de liberdade, de retorno à terra natal.

                Passemos agora às considerações sobre os guias. Inicialmente, devemos ter em mente que um Orixá não é uma entidade guia. Um Orixá é uma deidade, uma manifestação do divino que nunca teve uma encarnação e não é humana. Sua representação imagética semelhante ao homem se faz para melhor compreendermos seus aspectos arquetípicos e assimilarmos melhor parte de seu conhecimento. Um orixá estará presente na coroa da pessoa, não sendo assim exatamente um mentor. Por hora, muito simplificadamente, podemos considera-los como vibrações divinas originais que atuam em campos determinados no divino, chamados de Tronos, cada um com suas propriedades e assentamentos. Dentro desses tronos, existem entrecruzamentos e orixás menores. Um orixá menor é um chefe de legião ou de falange. Importante ressaltar que as definições de orixás variam de culto para culto, mas é consenso que eles sejam deuses e não espíritos com encarnações prévias.
                Dentro da cadeia de guias, existem graus, linhas e dentro das linhas existem legiões,  falanges, sub falanges, agrupamentos, etc.  Esse conceito de hierarquia é muito definido e presente no desenvolvimento da organização espiritual e cada espírito responde em subordinação ao seu superior. As últimas divisões são os guias e protetores. O que vai nos indicar a qual lugar dentro dessa cadeia uma entidade pertence é o nome pela qual ela se apresenta e também o que ela mesma explica.  Podemos entender a qual lugar pertence uma entidade quando seu nome é simbolizador. Quando o nome é ocultador, possui um mistério que só será revelado pela própria entidade em momento oportuno.

                Um nome simbolizador é aquele que indica, através dos símbolos, alguma coisa a respeito daquele guia. Exu Tranca Ruas, por exemplo, já nos indica que é uma entidade do grau dos Exus que trabalha na linha à esquerda de Ogum, pois o ato de trancar rua é fechar um caminho, vibração relacionada a esse Orixá. Todo grau Exu responde à Ogum, mas não necessariamente trabalham na vibração desse orixá.  Um Exu do Lodo, por sua vez, seria do grau Exu e por isso responde a Ogum, mas trabalha na linha de Nanã. Sua falange é do Lodo, e dentro dela existem vários Exus do Lodo.  No nome simbolizador, algum símbolo, elemento, cor, local, fará a função de indicar seu posicionamento. Uma cabocla Estrela do Mar, nesse sentido, responde á Oxóssi por ser do grau caboclo mas trabalha na linha de Yemanjá.
                No nome ocultador, só saberemos a função de trabalho da entidade se ela mesma indicar. Como exemplo, temos muitos nomes de preto velhos que, apesar de comuns, são próprios. Pai Joaquim, Benedito, Vovó Maria, etc. Nesse sentido, os nomes dos guias não são necessariamente os de alguma encarnação, e não são escolhidos sem propósito. Eles são uma identidade espiritual que vai muito além da individualidade daquele espírito. Mesmo os nomes comuns e próprios tem um por quê e nos indicam a humildade de um espírito que abriu mão de ter um Eu consolidado no nome, fugindo a qualquer egolatria e se identificando da forma mais simples possível e, por isso mesmo, sendo geralmente de guias de vibração muitíssimo elevada.
                Todo grau de entidades possui um mistério e uma razão de ser, indo além da compreensão humana. Apesar disso, podemos ressaltar alguns pontos pacíficos nos tipos de trabalho. Sabemos, por exemplo, que o grau dos erês não necessariamente é formado por crianças que desencarnaram (apesar de isso não ser impossível) mas por espíritos que trabalham com questões de inocência, pureza, renovação, curiosidade, cura de emoções antigas e tudo relacionado à criança. De forma lúdica, muitos ensinamentos são passados assim.

                Quando da incorporação, cada grau vai irradiar um tipo de energia no médium que incorpora, além do trabalho para com terceiros. É muito comum a mulher que incorpora de forma alinhada sua pomba gira sentir-se muito bem posteriormente, com a energia renovada e vitalidade aguçada. Todos os guias e mentores de uma pessoa são exatamente os melhores que ela precisa para sua evolução e, consequentemente, são determinados pela composição dos orixás de sua coroa. Isso não significa que uma pessoa irá se limitar aos seus guias mais próximos. Dentro do polimatismo, é possível haver contato não apenas com seus próprios guias, mas com todos os guias necessários em algum momento para um trabalho.
                A confiança na inteligência maior do Pai Divino é essencial para entendermos que ele nos envia exatamente aquilo que precisamos, no momento que precisamos e da forma como precisamos para nossa evolução. Assim é com os guias de aruanda. Axé!

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

OXUM – Cachoeira, ouro, espelho e ovos



O Trono do Amor é um dos sete tronos divinos revelados pela doutrina da sagrada umbanda de Rubens Saraceni. De acordo com esse estudo, Oxum rege essa irradiação de forma positiva, irradiadora e agregadora, opostamente a Oxumaré, que se encontra no polo negativo do mesmo. Apesar de seus campos de atuação na natureza serem as águas doces, sobretudo rios e cachoeiras, seu elemento é mineral. A origem de seu nome se dá por um rio homônimo localizado na Nigéria que até os dias atuais possui um culto próprio.
Por agir em campos emocionais, sua atuação pode causar a liberação da retenção do sentir através do choro, fazendo manifestar sua cachoeira em olhos humanos. As cachoeiras nos remetem à ideia de ininterrupta doação, assim como as águas doces se doam constantemente para o mar e Oxum nos doa incessantemente seu amparo e amor. Também, a fluência das águas e sua constante adaptação ao meio, ora correnteza forte, ora calmaria, nos trazem a maleabilidade e resiliência necessárias para lidarmos com o fluir da vida. A persistência das águas dos rios, sempre correndo pelo planeta conduzindo a vida, se encontra dentro de nós como o sangue correndo em nossas veias transportando os nutrientes necessários para nossa manutenção.


Dentro da vasta sabedoria africana, existe um Itan que revela a importância de Oxum no panteão dos orixás. Conta-se que nos tempos antigos, quando os orixás chegaram a Terra enviados por Olorum, ficou estipulado que apenas os orixás masculinos realizariam as reuniões necessárias para tomadas de decisão e discussões dos mais diversos assuntos. Nesse ínterim, enquanto os encontros ocorriam, Oxum decidiu mostrar o porquê de isso ser um equívoco sem tamanho. Sendo assim, com o intuito de demonstrar a importância de sua presença, secou todas as fontes de água doce do planeta e tornou todas as mulheres incapazes de conceber.
Algum tempo depois, percebendo que nada prosperava, os orixás decidiram procurar Olorum para explicar que, apesar de todos os esforços, tudo ia mal no planeta. Sendo ele o Criador do universo, questionou àqueles deuses-homens onde se encontrava Oxum. Foi dessa maneira que se clareou o entendimento da presença do Amor que, nesse ocorrido, personificou-se em forma Dela. Quando devidamente integrada, Ela ordenou que a água voltasse a brotar das terras secas e que os úteros voltassem a conceber a vida. Assim, a felicidade e a prosperidade retornaram ao planeta. Para além do óbvio de que sem amor não existiria vida, sem Oxum não existiria nada. Ela é yalodê, ou seja, considerada a mulher mais importante da tribo.
A simbologia que contorna essa Mãe vai muito além da água doce.  Algumas vezes, encontramos sua forma grávida, sinalizando seu domínio sob a fertilidade, a concepção da vida e sua proteção sob as mulheres nesse estágio. Por esse motivo, é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição no Brasil e, ainda, com Nossa Senhora Aparecida, por esta ter tido seu milagre realizado dentro de um rio.

ESPELHO
A respeito de seu espelho, símbolo mais representativo dessa yabá, ensina-nos um outro Itan que Xangô - à época dos fatos também casado com Iansã – não escondia sua preferência conjugal por Oxum. Aquela, muito enciumada do fato, aproveitou um dia em que Oxum estava se banhando em suas águas sob a luz do sol para se vingar da suposta rival e, assim sendo, investiu contra ela. Como a personalidade de Oxum não é afeita às armas nem à agressividade, ela apenas virou seu abebé (nome dado a seu espelho) na direção da rival, o que fez com que a luz do sol a cegasse e os ataques cessassem. A vitória da mãe do Amor reafirmou a preferência antiga de Xangô e nos abre espaço para inúmeros aprendizados a respeito desse instrumento.

Semelhante aos fatos narrados, na mitologia grega também encontramos a mesma função para o reflexo, quando Perseu derrotou Medusa fazendo-a olhar a si mesma em seu escudo espelhado. A analogia nos remete impreterivelmente a máxima grega: conhece a ti mesmo. Espelho é também símbolo de consciência, de revelação do inconsciente, sendo encontrado em um vastíssimo número de histórias míticas, algumas vezes como portal para outras dimensões, como arma ou como instrumento magístico. Unanimidade nos estudos espirituais de diversas linhas da humanidade, não deve ser confundido em Oxum com sua aparente contradição de futilidade e vaidade. Ele é, além de autoconhecimento, amor próprio e vetor de autorreflexão. Está, nesse caso, associado à lua que, como ele, reflete a luz solar sem a gerar em si e também ao feminino e ao autocuidado.

OURO
                Não por acaso, o ouro também é diretamente ligado a essa orixá. É considerado por toda a humanidade como o metal mais precioso encontrado, sendo símbolo do que existe de mais perfeito na natureza. É luz solar cristalizada cuja transmutação é objeto de desejo dos alquimistas. No caso de Oxum, é a prosperidade consequente do amor, a nobreza da consciência de caráter divino e a preciosidade desse mistério. Na esquerda de seu Trono, encontramos a falange de Exu do Ouro, seres que trabalham diretamente sob sua irradiação e evoluem através do trabalho dentro dessa hierarquia.

OVOS
                Dentro de seus símbolos encontramos, ainda, a galinha e seus ovos. O ovo é o maior símbolo de fertilidade encontrado no reino animal e, não por acaso, tem uma coloração amarelada em sua gema que contém potencialidade de vida. É muito utilizado na ritualística africana. Em um itan de Oxalá, no qual a Morte assolava toda a população de uma localidade, trazendo sofrimento e terror aos moradores, ele ordena que seja feito uma grande oferenda de galinhas pretas pintadas com giz branco para espantá-la. As galinhas são, nesse sentido, símbolo máximo da vitória da vida sobre a Morte.  Assim como a galinha protege seus pintinhos, Oxum protege a seus filhos com todo seu amor debaixo de suas asas. Ora yeyeô!

REFERÊNCIAS

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Nanã, a Senhora do Barro


"Foram as tuas mãos
que me formaram
e me fizeram.
Irás agora voltar-te e destruir-me? 
Lembra-te de que me moldaste
como o barro;
e agora me farás voltar ao pó?"
Jó 10:8 e 10:9

A passagem bíblica acima, meramente ilustrativa, nos traz em forma de versos o que é o campo de atuação de Nanã. Ocorreu que, de acordo com um dos Itans passados através das gerações, lá no início dos tempos, Oxalá estava procurando algum material para moldar o ser humano e assim colocar o sopro de vida do espirito de cada homem que seria criado, por ordem de Olorum. Assim, tentou fazer o homem de fogo, mas ele se consumia. Tentou fazer de água, mas esse se esparramava. Usou o ar, mas esse se dissipava rapidamente. Com a terra, se esfarelava. Até tentou com azeite e mel, mas esses, por sua vez, derretiam. Nem a madeira, nem as pedras e nem o ferro eram maleáveis o suficiente para dar a forma que Oxalá queria. Depois de muitas tentativas falhas, Nanã veio em seu socorro. Foi então que ela pegou um punhado de barro do fundo de um de seus lagos e o emprestou a Oxalá, que finalmente conseguiu usar a densidade do material para fazer a fôrma dos espiritos que iria soprar. No entanto, a Orixá fez um único pedido em troca: que, ao final da vida de cada um, o barro fosse a ela devolvido.


A simbologia do barro é universal e contém parte do mistério da origem da vida do homem e de  sua natureza. Em muitas passagens espirituais, encontramos figuras de linguagem relacionando a feitura de um vaso à feitura do homem, respectivamente nas mãos do oleiro e nas mãos de Deus. Com os orixás, a gênese não se faz diferente. É Nanã quem traz o material da vida aos seres a partir do barro e Oxalá quem sopra a vida. Diferentemente das crenças não reencarnacionistas, na cosmogonia dos orixás temos sua atuação também no momento pré re-encarnatório, onde Ela rege sob a memória dos seres, junto à Obaluaê.

A memória é uma das suas áreas de domínio. Por ser a orixá mais antiga e estar presente desde o início dos tempos, a sua própria memória a tudo engloba. No entanto, nos seres sob os quais rege, ela é quem decanta essa função para que os homens possam cumprir os propósitos da missão encarnada. Nada lembramos de nossas vidas passadas pois Nanã nos transforma em barro quando abandonamos o corpo e nos molda em um novo vaso, quando pertinente, esvaziado e pronto para receber outros ensinamentos. Existe um mistério por trás disso que, apesar de não ser intransponível, possui uma razão de ser. Como poderíamos aprender a amar um irmão se soubessemos o que ele nos fez de grandes males em encarnação anterior? E como poderíamos nos perdoar ao jamais esquecer o peso daquilo tudo que fizemos? O esquecimento, quando emanado pelo Divino, é reparador e renovador.

Pelo fato de Ela estar presente junto a Oxalá desde o momento do inicio dos sopros de vida e também
por estar associada à perda de memória (que pode, inclusive, acontecer em momento no qual o ser se encontra ainda encarnado, como no mal de Alzheimer e na demência, por exemplo) é que temos sua imagem praticamente sempre relacionada à uma anciã, à velhice, a senilidade e aos idosos. Dentro do sincretismo brasileiro, temos Nanã  como Sant'ana, avó de Jesus no cristianismo, santa que engravidou já em idade avançada e estéril, graças as penitencias e orações de seu marido, São Joaquim. Sua comemoração no calendário santo é dia 26 de Julho. Por esses motivos, sua atuação protetora encontra-se mais forte nas pessoas de mais idade. Também é muito comum que mulheres que não conseguem engravidar a Ela recorra por auxilio.

Também, a Orixá rege a parte final do ciclo reprodutivo das mulheres: a menopausa, em seguida de Yemanjá regendo a maternidade e Oxum a concepção. Geralmente, é associada às cores roxa e lilás e está posicionada no trono negativo, feminino e absorvente da Evolução, fazendo par com Obaluaê, de acordo com os tronos de evolução revelados por Rubens Saraceni.

REFERÊNCIAS

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Yagé Orixas a Ogum


OGUM
            Ogum, orixá oriundo da mitologia iorubá, é muito mais do que regente dos caminhos e aplicador de lei. Sua vasta atuação encontra terreno fértil em diversos cultos para semear o caminho de guerreiro no coração de seus devotos e admiradores. Desde a sua adoração em cultos antigos até o presente momento de evolução, dificilmente aparece dissociado de sua espada e escudo. Relacionado à forja do ferro e à guerra, irmão de Exu e Oxóssi, é o senhor das próprias armas e caminhos, exalando postura tradicionalmente marcial e isenta de temores ou covardias.
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            Ogum é a representação da própria força em equilíbrio com a inteligência, estratégico e destemido, corajoso e voraz pelo domínio de si próprio. Sua vibração está ligada, por motivos culturais, ao poder de libertação e proteção que essa manifestação divina é capaz de conceder a quem tem fé, simbolizadas pelos já citados escudo e espada ou lança. Sincretizado com São Jorge e também com Santo Antônio, está sempre relacionado à batalhas e vitória sobre demandas, à escolta e ronda na luz e ao serviço devocional dos filhos de fé.
            Seu sincretismo com São Jorge exibe simbologia bastante pertinente ao posicioná-lo em domínio de seu cavalo com suas armas na mão. Acontece que o cavalo é associado, na psique humana, aos sentidos e impulsos animais do homem. O cavalo, quando cavalgando na escuridão, tem a visão noturna muito mais aguçada que o homem mas, quando a luz irradia, é o homem quem enxerga melhor do que o cavalo e assim o domina. Por esse motivo, São Jorge faz também sua morada na Lua, sendo a faceta que reflete a luz do Grande Sol e ilumina a terra em sua faceta de escuridão.
O mesmo acontece com aquele que se irradia sob a luz desse orixá e é igualmente valente o suficiente para ser conduzido por Ele pelas encruzilhadas e caminhos internos a fim de vencer os próprios impulsos de baixa frequência.
            Ao se trabalhar na vibração de Ogum, somos chamados a atender uma guerra interna que pode se manifestar sob diversos prismas e que tem por fim aumentar nosso grau de elevação sob nossas limitações espirituais, materiais, mentais e emocionais. Ogum conduz sempre à vitória pois está amparado no Pai Maior e nos traz, ao mesmo tempo, sensação de coragem e fé que nos impulsiona para tais batalhas sem medo e com garantia de sucesso de nossa luz sob as trevas.
            Antes mesmo de lutar, Ogum já venceu. E assim são também seus filhos e protegidos, livres de receios e amparados pela luz. Batalham com coração, mente e olhar fixos nos princípios divinos e com fé e convicção de que, no fundo, não há derrotas a serem temidas para quem age de acordo com a lei do Criador. Ogum é a manifestação maior do Guerreiro que venceu a maior de todas as demandas – sua natureza e impulsos egóicos -  e, por consequência, assim derruba todas os outras juntas através da servidão prestada junto ao Pai Divino.
Colaboração da nossa querida Irmã de Caminhada Espiritual integrante do Clã do Camaleão Beatriz Mazzini .
Texto Maravilhoso .