"Foram as tuas mãos
que me formaram
e me fizeram.
Irás agora voltar-te e destruir-me?
que me formaram
e me fizeram.
Irás agora voltar-te e destruir-me?
Lembra-te de que me moldaste
como o barro;
e agora me farás voltar ao pó?"
Jó 10:8 e 10:9
A passagem bíblica acima, meramente ilustrativa, nos traz em forma de versos o que é o campo de atuação de Nanã. Ocorreu que, de acordo com um dos Itans passados através das gerações, lá no início dos tempos, Oxalá estava procurando algum material para moldar o ser humano e assim colocar o sopro de vida do espirito de cada homem que seria criado, por ordem de Olorum. Assim, tentou fazer o homem de fogo, mas ele se consumia. Tentou fazer de água, mas esse se esparramava. Usou o ar, mas esse se dissipava rapidamente. Com a terra, se esfarelava. Até tentou com azeite e mel, mas esses, por sua vez, derretiam. Nem a madeira, nem as pedras e nem o ferro eram maleáveis o suficiente para dar a forma que Oxalá queria. Depois de muitas tentativas falhas, Nanã veio em seu socorro. Foi então que ela pegou um punhado de barro do fundo de um de seus lagos e o emprestou a Oxalá, que finalmente conseguiu usar a densidade do material para fazer a fôrma dos espiritos que iria soprar. No entanto, a Orixá fez um único pedido em troca: que, ao final da vida de cada um, o barro fosse a ela devolvido.
A simbologia do barro é universal e contém parte do mistério da origem da vida do homem e de sua natureza. Em muitas passagens espirituais, encontramos figuras de linguagem relacionando a feitura de um vaso à feitura do homem, respectivamente nas mãos do oleiro e nas mãos de Deus. Com os orixás, a gênese não se faz diferente. É Nanã quem traz o material da vida aos seres a partir do barro e Oxalá quem sopra a vida. Diferentemente das crenças não reencarnacionistas, na cosmogonia dos orixás temos sua atuação também no momento pré re-encarnatório, onde Ela rege sob a memória dos seres, junto à Obaluaê.
A memória é uma das suas áreas de domínio. Por ser a orixá mais antiga e estar presente desde o início dos tempos, a sua própria memória a tudo engloba. No entanto, nos seres sob os quais rege, ela é quem decanta essa função para que os homens possam cumprir os propósitos da missão encarnada. Nada lembramos de nossas vidas passadas pois Nanã nos transforma em barro quando abandonamos o corpo e nos molda em um novo vaso, quando pertinente, esvaziado e pronto para receber outros ensinamentos. Existe um mistério por trás disso que, apesar de não ser intransponível, possui uma razão de ser. Como poderíamos aprender a amar um irmão se soubessemos o que ele nos fez de grandes males em encarnação anterior? E como poderíamos nos perdoar ao jamais esquecer o peso daquilo tudo que fizemos? O esquecimento, quando emanado pelo Divino, é reparador e renovador.
Pelo fato de Ela estar presente junto a Oxalá desde o momento do inicio dos sopros de vida e também
por estar associada à perda de memória (que pode, inclusive, acontecer em momento no qual o ser se encontra ainda encarnado, como no mal de Alzheimer e na demência, por exemplo) é que temos sua imagem praticamente sempre relacionada à uma anciã, à velhice, a senilidade e aos idosos. Dentro do sincretismo brasileiro, temos Nanã como Sant'ana, avó de Jesus no cristianismo, santa que engravidou já em idade avançada e estéril, graças as penitencias e orações de seu marido, São Joaquim. Sua comemoração no calendário santo é dia 26 de Julho. Por esses motivos, sua atuação protetora encontra-se mais forte nas pessoas de mais idade. Também é muito comum que mulheres que não conseguem engravidar a Ela recorra por auxilio.
Também, a Orixá rege a parte final do ciclo reprodutivo das mulheres: a menopausa, em seguida de Yemanjá regendo a maternidade e Oxum a concepção. Geralmente, é associada às cores roxa e lilás e está posicionada no trono negativo, feminino e absorvente da Evolução, fazendo par com Obaluaê, de acordo com os tronos de evolução revelados por Rubens Saraceni.
REFERÊNCIAS
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