O Trono do Amor é um dos sete tronos divinos revelados pela doutrina da
sagrada umbanda de Rubens Saraceni. De
acordo com esse estudo, Oxum rege essa irradiação de forma positiva,
irradiadora e agregadora, opostamente a Oxumaré, que se encontra no polo
negativo do mesmo. Apesar de seus campos de atuação na natureza serem as águas
doces, sobretudo rios e cachoeiras, seu elemento é mineral. A origem de seu
nome se dá por um rio homônimo localizado na Nigéria que até os dias atuais
possui um culto próprio.
Por agir em campos emocionais, sua atuação pode causar a liberação da
retenção do sentir através do choro, fazendo manifestar sua cachoeira em olhos
humanos. As cachoeiras nos remetem à ideia de ininterrupta doação, assim como
as águas doces se doam constantemente para o mar e Oxum nos doa incessantemente
seu amparo e amor. Também, a fluência das águas e sua constante adaptação ao
meio, ora correnteza forte, ora calmaria, nos trazem a maleabilidade e resiliência
necessárias para lidarmos com o fluir da vida. A persistência das águas dos
rios, sempre correndo pelo planeta conduzindo a vida, se encontra dentro de nós
como o sangue correndo em nossas veias transportando os nutrientes necessários
para nossa manutenção.
Dentro da vasta sabedoria africana, existe um Itan que revela a
importância de Oxum no panteão dos orixás. Conta-se que nos tempos antigos,
quando os orixás chegaram a Terra enviados por Olorum, ficou estipulado que
apenas os orixás masculinos realizariam as reuniões necessárias para tomadas de
decisão e discussões dos mais diversos assuntos. Nesse ínterim, enquanto os
encontros ocorriam, Oxum decidiu mostrar o porquê de isso ser um equívoco sem
tamanho. Sendo assim, com o intuito de demonstrar a importância de sua
presença, secou todas as fontes de água doce do planeta e tornou todas as
mulheres incapazes de conceber.
Algum tempo depois, percebendo que nada prosperava, os orixás decidiram
procurar Olorum para explicar que, apesar de todos os esforços, tudo ia mal no
planeta. Sendo ele o Criador do universo, questionou àqueles deuses-homens onde
se encontrava Oxum. Foi dessa maneira que se clareou o entendimento da presença
do Amor que, nesse ocorrido, personificou-se em forma Dela. Quando devidamente
integrada, Ela ordenou que a água voltasse a brotar das terras secas e que os
úteros voltassem a conceber a vida. Assim, a felicidade e a prosperidade
retornaram ao planeta. Para além do óbvio de que sem amor não existiria vida,
sem Oxum não existiria nada. Ela é yalodê,
ou seja, considerada a mulher mais importante da tribo.
A simbologia que contorna essa Mãe vai muito além da água doce. Algumas vezes, encontramos sua forma grávida,
sinalizando seu domínio sob a fertilidade, a concepção da vida e sua proteção
sob as mulheres nesse estágio. Por esse motivo, é sincretizada com Nossa
Senhora da Imaculada Conceição no Brasil e, ainda, com Nossa Senhora Aparecida,
por esta ter tido seu milagre realizado dentro de um rio.
ESPELHO
A respeito de seu espelho, símbolo mais representativo dessa yabá,
ensina-nos um outro Itan que Xangô - à época dos fatos também casado com Iansã –
não escondia sua preferência conjugal por Oxum. Aquela, muito enciumada do
fato, aproveitou um dia em que Oxum estava se banhando em suas águas sob a luz
do sol para se vingar da suposta rival e, assim sendo, investiu contra ela. Como
a personalidade de Oxum não é afeita às armas nem à agressividade, ela apenas
virou seu abebé (nome dado a seu
espelho) na direção da rival, o que fez com que a luz do sol a cegasse e os
ataques cessassem. A vitória da mãe do Amor reafirmou a preferência antiga de
Xangô e nos abre espaço para inúmeros aprendizados a respeito desse
instrumento.
Semelhante aos fatos narrados, na mitologia grega também encontramos a
mesma função para o reflexo, quando Perseu derrotou Medusa fazendo-a olhar a si
mesma em seu escudo espelhado. A analogia nos remete impreterivelmente a máxima
grega: conhece a ti mesmo. Espelho é também símbolo de consciência, de
revelação do inconsciente, sendo encontrado em um vastíssimo número de
histórias míticas, algumas vezes como portal para outras dimensões, como arma
ou como instrumento magístico. Unanimidade nos estudos espirituais de diversas
linhas da humanidade, não deve ser confundido em Oxum com sua aparente
contradição de futilidade e vaidade. Ele é, além de autoconhecimento, amor
próprio e vetor de autorreflexão. Está, nesse caso, associado à lua que, como
ele, reflete a luz solar sem a gerar em si e também ao feminino e ao
autocuidado.
OURO
Não por acaso, o ouro também é
diretamente ligado a essa orixá. É considerado por toda a humanidade como o
metal mais precioso encontrado, sendo símbolo do que existe de mais perfeito na
natureza. É luz solar cristalizada cuja transmutação é objeto de desejo dos
alquimistas. No caso de Oxum, é a prosperidade consequente do amor, a nobreza
da consciência de caráter divino e a preciosidade desse mistério. Na esquerda
de seu Trono, encontramos a falange de Exu do Ouro, seres que trabalham
diretamente sob sua irradiação e evoluem através do trabalho dentro dessa
hierarquia.
OVOS
Dentro de seus símbolos
encontramos, ainda, a galinha e seus ovos. O ovo é o maior símbolo de
fertilidade encontrado no reino animal e, não por acaso, tem uma coloração
amarelada em sua gema que contém potencialidade de vida. É muito utilizado na
ritualística africana. Em um itan de Oxalá, no qual a Morte assolava toda a
população de uma localidade, trazendo sofrimento e terror aos moradores, ele
ordena que seja feito uma grande oferenda de galinhas pretas pintadas com giz
branco para espantá-la. As galinhas são, nesse sentido, símbolo máximo da
vitória da vida sobre a Morte. Assim
como a galinha protege seus pintinhos, Oxum protege a seus filhos com todo seu amor
debaixo de suas asas. Ora yeyeô!
REFERÊNCIAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário