O Carro no tarot mitológico |
INTRODUÇÃO
O tarot, representando aspectos e
faces da jornada espiritual e humana, relaciona-se diretamente com forças e
necessidades que foram contempladas pelo culto aos orixás e que, nós, como
caminhantes do polimatismo, podemos absorver de forma mais ampla, a fim de
compreender melhor as partes do todo. Seguindo esse raciocínio, podemos
entender que o arquétipo do orixá Ogum e do arcano VII do tarot, o Carro ou Carruagem,
estão relacionados e cruzados em diversas formas, dentro das simbologias
apresentadas em ambos. Explanaremos a seguir como se relacionam a lâmina e
Orixá Guerreiro, a fim de entender como os aspectos dessa fase da jornada estão
refletindo suas semelhanças e possuem a mesma fonte divina.
Primeiramente, faz-se necessário
entender os elementos que permeiam a carta em si, e de que forma elas se
relacionam com a força do arquétipo de guerreiro, denotando batalha, vitória,
triunfo, movimento, ação, determinação, domínio, etc.
O TRIUNFO
Palavras-chave: vitória, triunfo, marte, guerra, roma
O triunfo, (em latim triumphus) é uma cerimonia e tradição
civil e religiosa que tem origem na Roma antiga. Nesse rito, era dado o direito
a um líder militar vitorioso em batalha que desfilasse em uma carruagem por uma
procissão, a fim de apresentar sacrifício aos deuses e mostrar-se ganhador
perante a população. Para ser um vir
triumphalis (homem do triunfo),
era preciso enviar uma solicitação e um relatório ao senado. O desfile triunfal
colocava o vir triumphalis quase em
pé de igualdade a um semideus, e era concedido apenas por mérito militar
excepcional. A rota do triunfo romano tinha origem no Campo de Marte (planeta
regente de Ogum e deus romano relacionado à guerra e à agricultura), uma zona
pública bastante populosa do império. Apesar do caráter de homenagem e exibição
do general bem sucedido, ele costumava se portar com humildade e prostrar-se
perante às divindades, reconhecendo sua vitória em nome do senado, do povo e
dos deuses de Roma, levando sacrifícios animais à estes. O triunfo romano é uma
vívida materialização da lâmina analisada, como podemos observar nas imagens
abaixo.
O Triunfo de Aemilius Paulus (Carle Vernet) |
ARQUÉTIPO DE OGUM NA LÂMINA
Palavras-chave: ferro, tecnologia, armas, militarismo
O arquétipo do orixá Ogum é,
necessariamente, de um guerreiro triunfante. O deus de origem yorubá é o senhor
dos caminhos, das armas, das demandas, da guerra e agricultura. O militarismo, a
espada, as batalhas e as vitórias estão todas relacionadas a ele. O
desenvolvimento tecnológico também é creditado a esse deus, pois ele regeu a
saída da humanidade da pré-história para a Idade do Ferro, momento no qual o
homem obteve domínio sobre técnicas de fundição do ferro e sua utilização para
ferramentas e armas, marcando assim o início de uma nova era para a humanidade.
Atualmente, dentro da renovação do culto aos orixás e novas tradições, temos
Ogum relacionado à guerra interna dos caminhantes espirituais que precisam
vencer a si mesmos. Dessa forma encontramos seu sincretismo com São Jorge,
soldado romano comumente visto em suas imagens montado em um cavalo e triunfante
sobre um dragão. O cavalo de São Jorge significa os impulsos inferiores do
homem que precisam ser dominados a fim de acessar a grande vitória sobre si
próprio. O cavalo de Ogum, portanto, está presente na Carta e trataremos mais
detalhadamente a respeito do animal em tópico próprio.
Batalha de Kurukshetra |
A CARRUAGEM
Palavras-chave: domínio, movimento, ação, deslocamento, determinação
A carruagem, também conhecida como
carro, representa movimento e ação. Montada em cima de rodas, nos da a idéia de
deslocamento de um ponto a outro. Vista em cenários de batalhas, está presente
na Guerra de Kurukshetra. Nessa batalha, Krishna e Arjuna se encontram em uma
quádriga - considerada a carruagem dos deuses e heróis - e vão em direção à
vitória. Na quádriga, encontramos hasteada a bandeira de Hanuman, fazendo alusão
à invencibilidade. A carruagem no tarot, dominada por seu dirigente,
representado com vestimentas nobres, com adornos, coroa e cetro, nos remonta à
determinação e domínio. Assim como São Jorge domina seu cavalo, aquele que
tomar as rédeas da própria carruagem e governar seus cavalos irá se dirigir
impreterivelmente a ganhar. É a execução tomada após uma decisão, com pulso
firme e júbilo, ao mesmo tempo em que é um desfile de um vencedor que já obteve
sucesso. Esse é o simbolismo do invencível, do guerreiro corajoso e destemido.
O CAVALO
A medicina do cavalo é muito ampla. Tanto no arcano como no arquétipo de
Ogum, ele representa a natureza inferior do homem, seus sentidos, suas forças
inconscientes e o fim da desgovernança de si próprio quando enfim dominado.
Ainda, é um animal que, junto com o resto da simbologia, nos remete à
movimento, locomoção, caminhos, desenvolvimento e ação. É onde os guerreiros
montam para irem à batalha. Não obstante, exala beleza e imponência, é um
animal forte e veloz, que traz abertura de passagens e transição. Quando o
homem domou o cavalo, a velocidade das viagens, antes lentas e pesarosas,
tornou-se mais rápida, dinâmica e menos trabalhosa, pois agora o cavalo também
carregava cargas. Isso proporcionou um avanço imenso no desenvolvimento da
humanidade. Na antiguidade, possuir esses equinos era símbolo maior do poder
bélico de um exército. Aquele que possuísse uma carro de guerra guiado por eles
obtinha uma enorme vantagem sob seus rivais.
O Carro no tarot de Marselha |
CONCLUSÃO
O arquétipo do tarot e a força do
Orixá se convergem em vários pontos. Ambos são figuras masculinas nobres, dominadores
de cavalos, direcionadores de caminhos vitoriosos e trazem a figura do invencível,
do guerreiro obstinado, da determinação em movimento, do triunfante. Ação e velocidade. Nem a
carruagem e nem Ogum perdem tempo naquilo que não interessa na batalha.
O Carro em tarôs clássicos: Jacques Vieville (1650) Jean Noblet (1650), Nicolas Convert (1760) e François Tourcaty (1800) |
Beatriz Mazzini
REFERENCIAS